quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dor


No entanto, sempre hás de cantar venturas

que jamais encontraste... O teu caminho,
dirás que é cheio de alegrias puras,
de horas boas, de beijos, de carinho..."


E assim tem sido... Escondo os meus lamentos:
É meu destino suportar sorrindo
as desventuras e os padecimentos.


E no mundo hei de andar, neste desgosto,
a mentir ao meu íntimo, cobrindo
os sinais destas lágrimas no rosto!

Humberto de campos

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Inscrição na areia

O meu amor não tem importância nenhuma.
 Não tem o peso nem de uma rosa de espuma!
 Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?
O meu amor não tem importância nenhuma.

Cecília Meireles

domingo, 20 de julho de 2014

Os poemas

Os poemas são pássaros
que chegam não se sabe de onde
 e pousam no livro que lês.
 Quando fechas o livro,
eles alçam voo como de um alçapão.
 Eles não têm pouso nem porto;  
alimentam-se um instante
 em cada par de mãos e partem.
 E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
 no maravilhado espanto de saberes
 que o alimento deles já estava em ti...  

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Simplicidade


Queria, queria
Ter a singeleza
Das vidas sem alma
E a lúcida calma
Da matéria presa.

Queria, queria
Ser igual ao peixe
Que livre nas águas
Se mexe;

Ser igual em som,
Ser igual em graça
Ao pássaro leve,
Que esvoaça...

Tudo isso eu queria!
(Ser fraco é ser forte).
Queria viver
E depois morrer
Sem nunca aprender
A gostar da morte.   

Pedro Homem de Mello, in "Estrela Morta"